SIGA

domingo, 9 de agosto de 2015

Pai...A crônica não lida

           Certa vez ele me disse:...Nunca usou uma palavra para falar, uma letra para reproduzir, uma frase para explicar, uma estrofe para exemplificar. Ele sempre usou o seu exemplo. Às vezes seco, poucas palavras, silencioso, mas sempre observando a sua amada baixinha esposa. Não apenas uma carmélia, mas uma carmelita que a vida lhe deu. A madrugada era sua maior amante, não prazeirosa, pois era sinônimo de trabalho, caminho para ver seus filhos crescerem, se educarem, serem gente. De cada gole de café ele fez um ensinamento; em cada doce de leite ele transformou a aridez da vida em um néctar capaz de sedimentar os caminhos dos seus rebentos. Não media esforços, hora, dia, segunda, domingo, momento que fosse ele estava lá de pé, diante de sonhadores, frustrados, ébrios, filhos da madrugada, companheiros, em meio a infortúnios e alegrias. Por trás do balcão um senhor sério, seco, honrado, direito, honesto...Além do balcão, a mesma pessoa, apenas com um adendo a mais: um pai. Talvez não amoroso, não conversador, não atento as dúvidas e as curiosidades dos rebentos que tinham em sua Carmelita a verdadeira tradução do pai, exemplo de homem, marido, pai que sempre foi, a cada minuto, a cada segundo, a cada piscar cintilante dos olhos que sempre nos guiaram e nos fizeram homens e filhos. Talvez se juntássemos quatro olhos, quatro vozes, quatro letras, não conseguiríamos dizer o que ele era tudo para nós. Crescemos sem ouvir a voz do carinho, o abraço do afeto, o beijo do amor, mas sempre soubemos que no silêncio e na distância dos olhos dele sempre havia tudo isso em um só sentido. Cada um hoje segue seu caminho, sua vida, seu exemplo como alicerce para guiar a vida de cada um. Dizem que a falta entristece, mas sabemos que sempre estaremos em falta, com nossos pais, com nossas companheiras, com nossos filhos, conosco mesmos, pois, como bem sempre disse Espedito, sem falar nenhuma palavra, sem escrever numa linha, sem nunca expressar seus sentimentos, sempre estaremos em falta, mas mesmo distantes, mesmo em outras dimensões, nunca deixaremos de estar aqui, ao lado, caminhando, seguindo, torcendo, amando...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário será analisado e publicado